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Namoro no Fandango

1

Recentemente mudei,

Trocando o verde gramíneo,

Pela urbe e seu fascínio,

Saindo de onde nasci,

O campo onde eu vivi,

Como rei em seus domínios.

2

Deixei um namoro sério,

Que ia rumo ao casamento

Mas o meu pensamento,

Já tinha razões em si,

Que cada um de per si,

Era o melhor momento.

3

Esperei tomar o mate,

Para expor a situação,

Enveredou em discussão,

Que eu saí mal grado,

Esquinando abagualado,

Pro bolicho, dar vazão.

4

Como estava decidido,

E a opinião não mudasse,

Nem pedi que me esperasse,

Pois não sabia meu rumo,

E quando tivesse mais prumo,

Um dia talvez voltasse.

5

Arrumei um bom emprego,

Fiz novas amizades,

Mas sempre tive saudade

Que nesse tempo cresceu,

Do amor que me pertenceu,

Deixei ao vir pra cidade.

6

Mais tarde veio uma carta,

Anônima, só com o intento,

De informar com lamento,

Que ela também sumira,

Depois que mesmo assumira,

Esquivo comportamento.

7

Um dia, fui num fandango,

Num CTG aqui pertinho,

Encilhei e fui sozinho,

Me divertir na bailanta,

Encontrar uma percanta,

Por estes novos caminhos.

8

Depois de algumas horas,

Ouvia um bugio marcado,

Quando vi do outro lado

Da pista, onde se estenda,

Em pé uma linda prenda,

Que ainda não tinha dançado.

9

Parecia estar sozinha,

Vestida toda de branco,

Para meu maior espanto,

Ninguém chegava nela,

Até que eu disse pra ela:

Se quiser contigo eu danço.

10

Saímos num compasso,

E como sabia dançar,

Parecia até flutuar,

Sem tocar os pés no chão,

Durante todo o bailão,

Dançamos sem parar.

11

Até que então me disse,

Já no fim do folguedo,

Madrugada, manhã cedo,

Ainda escuro ia embora,

E saiu pela porta afora,

Sozinha não tinha medo.

12

Arranquei logo de atrás

E consegui lhe alcançar,

Queria saber o lugar,

Onde era sua morada,

Deu de ombros, não disse nada,

Permitiu lhe acompanhar.

13

Cem metros ali adiante,

Lugar êrmo e deserto,

Ainda sorriso aberto,

Disse: eu moro aqui,

Olhei pros lados, não vi,

Nenhuma casa por perto.

14

Ainda no lusco fusco,

Corri os olhos em vão,

Procurando uma habitação,

Quando me voltei pra ela,

Vi seu vulto entre velas,

Correndo na escuridão.

15

Foi aí que eu me dei conta,

Meu rosto ficou mais sério,

Com esse ar de mistério,

Sozinho sobre a calçada,

Vi que ali não tinha nada,

Tão somente um cemitério.

16

Entrei e fui atrás dela,

Vislumbrando na penumbra,

Só a lua me alumbra,

Pelo caminho entre cruzes,

No meio de poucas luzes,

Deparei-me com uma tumba.

17

Ainda perturbado,

Me detive sob o fulcro,

Vi seu rosto belo e pulcro,

No local onde ela some,

Também escrito seu nome,

Sobre a laje do sepulcro.

18

Só então eu percebi,

Em perplexo vitupério,

Elevado ambiente etéreo,

Que a moça que eu deixei,

É a mesma que eu dancei,

Hoje jaz no cemitério.

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