poesia gaudéria é aqui

A CHINA QUE EU QUERO AINDA

1

Na ocorrência vida afora,

De extravagâncias que tinha,

Há tempos me mantinha,          

Enredado com as chinocas,       

Que um dia me coloca,

Nas tantas idas e vindas,

Topar uma prenda linda, 

De quem fui ao encalço,

Terminando nos braços,

Da china que eu quero ainda.

2

Como era de costume,

Na bodega do seu Reis,

Tardezita pelas seis,

Eu no balcão oitavado,

Proseando o mais largado,

Quando vi de relancina,

Na porta entrando a China,

Que enxerguei de revesgueio,

Daquelas de morder o freio,

Que quase me desatina.

3

Ajeitei o lenço vermelho,

E me entesei num aprumo,

Tapiei o chapéu a rumo,

E coringuei de permeio,

À China pronto se veio,

Pro balcão a tal da compra,

Lado a lado me confronta

Que senti até o seu cheiro,

E pedi pro bolicheiro,

Mais um trago na minha conta.

4

Ela pediu queijo, salame,

E uma boteja de vinho,

Acomodou num cestinho,

Que trazia balandrame,

Ensaiei um “adios madame”,

Quando ela ia se embora,

Me bombeou de fora a fora,

Com uma cara de desmando,

Que eu fiquei cusquilhando,

Se o momento era agora.

5

Antes de decidir,

Golpiei o ultimo trago,

O gole saiu bem largo,

Botei a mão na guaica,

Paguei lá dez balastracas,

E sai solto no embalo,

Na boca, um gosto amargo,

Nos olhos, um brilho faceiro,

E a trote meio maneiro,

Resolvi topar um encargo.

6

Pra fazer a coisa certa,

Na busca do meu intento,

Primeiro a passo lento

À distância observando,

As ancas se balanceando

Compassadas campo adentro,

Já caía o elemento

Na noite que começava,

Um friozito que baixava,

Em quem andava ao relento.

7

Apertei o contra passo,

E a contra carga me fui,

Como se diz em jujuy,

Ala fresca, que coragem,

Nem medi porcentagem,

Emplumei logo o topete,

E num gesto serelepe

De manobra mais audaciosa,

Ofereci meu pala, prosa,

E recebi logo um tabefe.

8

Desconcertou-se com o gesto,

Que percebi no seu rosto,

E logo já estava posto

Seu pedido de desculpas,

A atitude que resulta,

E consenti sem falar,

A mão dela voltou ao ar,

Contra o rosto ainda sisudo,

E senti como um veludo,

A mão dela, me tocar.

9

Com esse gesto decisivo,

A cestinha caiu rente,

Ela virando de frente,

Se aproximando com o peito,

Eu ainda sem jeito,

Não tinha o que pra falar,

Nem ninguém pra censurar,

Enlacei a china na espalda,

Nove meses depois tinha fralda,

No meu rancho pra lavar.

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