poesia gaudéria é aqui

BEBO, MAS NÃO SOU PERVERSO

1

Eu sou de viver largado,

Como um gaúcho gaudério,

Espraiando ar de mistério,

Nos bolichos e galpões,

Não guardo nem proporções

Dos caminhos que invadem

As distâncias, dificuldades,

As intempéries do tempo,

Abaixo de contratempo,

Circulo bem à vontade

2

A noite longa se escoa,

Retorno ao meu  parador,

De transeunte madrugador

E companheiro da lua,

Estou de volta da rua

Quando o dia amanhecer,

Pra cumprir meu dever

Como peão de serviço,

Pois é que eu dependo disso,

Para farrear e viver.

3

Procedo diariamente,                        

Envolto nessa pendenga,                  

Fim de dia na fazenda,

O meu pensamento flutua,

Antes que a tristeza flua,

Saio quieto sem alarde,

Minha égua já sabe,

O caminho é o bolicho,

É só encilhar o bicho,

Ali pelo fim da tarde.

4

Saio tapando de poeira,

Aonde vou me dirigindo,

No horizonte vou sumindo

Num trotezito campeiro,

Vou direto pro povoeiro,

Na montaria sózinho,

Depois de pegar o caminho,

Em seguidita ela alcança,

O bolicho, minha cancha,

Aonde chego de mansinho.

5

Andando pelas quebradas,

Trago tudo discutido,

Depois de beber, e ungido

De poder, no apogeu,

Quem sabe de tudo sou eu,

Do meu trabalho campestre,

Tudo o que faço sou mestre,

Bom de tosa e alambrador,

E sou o melhor domador,

Desta órbita terrestre.

6

Das balacas, quem escuta,

Acompanhando meu blague, 

Pra quem sempre se gabe,

Aparece um mais gabão,

Não recua e da opinião,

Conta as suas e da o troco,

E isto não é pouco,

Cada um conta seus feitos,

Escondendo os defeitos,

Para ser melhor que o outro.

7

Entre a verdade e o exagero,

Existem as coisas que eu faço,

Desde cedo, criado guaxo,

Aprendendo do meu jeito,

Fazer as coisas no peito

Brotadas como um élan,

Não tenho tribo nem clã,

Pois vivo solto no mundo,

Sou o próprio viramundo,

Furungando o amanhã.

8

Quando ultrapasso a porteira

Que me alça lá pra fora,

Saio de bota e espora

Com o meu jeito emotivo,

Brigo se for preciso,

Grito, xingo e reclamo,

Afinal, sou ser humano,

Índio crú e boquirroto,

Que por estar vivo e não morto,

Sou do mundo um aragano.

9

E sigo batendo cascos

Atalhando pelas valetas,

Já marcado nas paletas,

Como descarte de ovelha,     

Resultado que espelha,

Assuntos mui controversos,

De tidos amores dispersos,

Envolvendo este Gaúcho,                 

Que pra agüentar o repuxo,

Eu bebo, mas não sou perverso.

 

 

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